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Arquitetos: Nicolás Fernández Sanz
- Área: 710 m²
- Ano: 2014
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Fotografias:Javier Agustín Rojas
O projeto foi concebido para um espaço de um galpão construído em meados do século 20, localizado na rua Ramírez de Velasco, entre Darwin e um cruzamento da linha de trem San Martín. A fachada monótona não sugere o vasto espaço que se estende em direção ao interior da quadra, durante anos uma grande nave industrial repleta de ar e de luz foi usada para armazenar peças industriais.
O objetivo do projeto era transformar este espaço para a quarta sede da histórica Galería de Arte Ruth Benzacar. Este espaço iria enfrentar o difícil desafio suceder o espaço subterrâneo na Rua Florida 1000 - um local que desempenhou um papel fundamental na arte avant-garde Argentina por trinta anos e do próprio espaço de onde a galeria ganhou prestígio internacional. A mudança deixa pra trás a memória dos arranha-céus do centro da cidade, a mais famosa rua de passeio em Buenos Aires e o bosque da Plaza San Martín. No novo bairro, a galeria encontra as gramas altas que crescem ao longo ambos os lados das pistas e um emaranhado de pequenas ruas pavimentadas e de paralelepípedos, casas baixas e antigas fábricas. A mudança coincide com uma série de importantes mudanças na geografia artística da cidade; reafirma a Villa Crespo como um novo ponto focal no circuito de arte local.
O projeto é, em essência, uma intervenção que utiliza elementos e espaços existentes sem impor um ideal. Ele faz uso de tudo o que estava em boas condições de funcionamento; a distribuição do espaço, permitindo ao galpão sugerir sua própria distribuição e percurso.
O térreo foi unificado com um único piso de cimento queimado que simula a continuação do pavimento utilizado na Rua Ramírez de Velasco. A partir dali começa o percurso através da calçada e o portão da garagem que serve de acesso, para então entrar suavemente até chegar à parede de exposições oposta. O cimento do piso foi nivelado para que não existissem degraus, suavizando o desnível de quase meio metro entre um extremo e outro do terreno.
A decisão arquitetônica central se apoia na construção de uma sala no interior de um galpão. Esta opção se mostrou superior à alternativa de transformar o galpão para disfarçá-lo de sala de exposições. É a partir desta determinação que foram pensados e organizados os diferentes espaços que formam parte das necessidades funcionais de uma galeria. Um mezanino existente sugeriu a divisão da metade norte do espaço principal. Paredes de tijolo comum com quatro metros de altura foram levantadas em torno da outra metade, criando ali o salão principal da exposição. Estas paredes servem a função secundária de colunas e de se livrar das irregularidades que eram características das paredes originais. A sua construção a partir do zero permitiu uma acabamento de gesso projetado e remover assim qualquer registro ou tomada elétrica para interromper seus planos.
Localizados em um pavimento baixo e ligadas ao espaço principal por escadas alcançadas através de portas pivotantes, as áreas de serviço e bastidores conformam diferentes maneiras de explorar o espaço. A escada principal, que leva a área de administração, é oculta por uma das paredes novas mencionadas acima. Graças às suas dimensões generosas, este espaço pode ser usado por artistas e pessoal da galeria. Talvez o detalhe mais marcante da galeria é a espécie de palco a partir do qual é possível observar de cima as exposições logo abaixo, que é contínua ao longo do percurso perimetral. À esquerda, os escritórios são como varandas sobre a grande sala de exposições e compartilham esta luz da grande claraboia do galpão.
Estávamos plenamente conscientes de que a missão do projeto era permitir uma variedade de subjetividades que iria encontrar significados múltiplos em todos os elementos: os novos tijolos e vigas expostas e as antigas coberturas em zinco. Os atributos primários e as intenções do projeto foram silêncio e translucidez. O galpão branco tem precedência sobre o cubo branco em material, urbano, e as economias simbólicas. A ambição do projeto é de possuir um espírito contemporâneo com as obras que abriga.
Carlos Huffmann - Nicolás Fernández Sanz.
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